segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quando perdemos os embriões...

Fiz meu 2º tratamento de fertilização in vitro, ou melhor de ICSI na seqüencia do primeiro. Infelizmente não pude congelar óvulos da primeira vez, portanto todo o tratamento foi reiniciado, desde o Synarel às injeções diárias e exames freqüentes.
Bom, no último dia 30 eu saberia pela segunda vez se eu havia perdido os embriões pela segunda vez ou se minha vida mudaria totalmente a partir das 17h daquele dia.
Neste dia eu estava organizando um evento e o exame de sangue precisou ser feito fora da clínica por causa do horário. às 17h o médico me ligaria para dar o resultado.
Passei o dia todo pensando qual seria minha reação, alternando pensamentos de alegria e tristeza, imaginando o resultado positivo e o negativo. Considerei se seria melhor eu pedir para o médico ligar mais tarde para que eu não caísse no choro na frente das pessoas do evento ou simplesmente saísse gritando histericamente que finalmente eu teria um bebê...
No final, resolvi arriscar e esperar, afinal eu poderia ter uma ótima notícia, não falar nada para ninguém e passar comprar sapatinhos amarelinhos para presentear meu marido e chamá-lo de pai pela primeira vez. Já comecei a imaginar que poderia inclusive comprar um babador e a 1ª roupinha do bebê, aliás, talvez um kit maternidade!
Ah, mas eu tinha que considerar que também poderia dar negativo. E neste caso, eu não poderia chorar na frente das pessoas. Pensei em meus pais, que após a morte de meu irmão já haviam passado por tanto sofrimento e que agora seriam poupados da alegria de ter seu primeiro e único neto. E se não desse certo? Minha família acabaria quando eu morresse... e o que eu iria falar para meus pais? E para o meu marido, ansioso em casa??
Mas ainda poderia dar positivo e então decidi que convidaria a todos para jantar fora e dar a notícia. Ah, poderia comprar sapatinhos de bebê para todos! Para meus pais, minha sogra e cunhadas! Seria uma grande surpresa!
Às 17h10 o telefone tocou. Saí da sala de reuniões e atendi no saguão.
-Alô?
-Alô, o Dr. pode falar com você?
-Sim, por favor.
-Dalila? Como está?Viu, seu resultado já saiu.
-E qual foi?
-Infelizmente os valores deram muito baixos...
-Muito baixos que podem virar positivo ou negativos mesmo?
-Deu negativo. Depois você precisa voltar ao consultório para conversarmos melhor.
-OK
Respirei fundo, engoli forte e voltei para minha reunião. Afinal, eu era profissional.
Duas horas depois peguei a estrada em direção a minha casa. A vida não iria mais mudar. Não haveriam fraldas, choro, alegria, expectativa e esperança nascendo em minha casa nunca mais. Não precisava comprar os sapatinhos. Nem ligar para meus pais. Estávamos sozinhos, de novo. E desta vez, definitivamente.
Os olhos embaçaram na estrada. Mas eu não chorei. A vida havia me dado mais uma tremenda rasteira. Mas eu estava aprendendo mais uma vez a levantar, limpar os joelhos e engolir o choro... A vida mais uma vez era um pai cruel, sem chance oferecer colo...

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