segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Eu sou Alex

Sei que há muito tempo nao escrevo, mas não me contive com as notícias dos últimos dias.
Hoje Eu sou Alex. Sim, sou Charlie também, pois as armas que tiraram as vidas em Paris sangraram os corações no mundo inteiro.
Os terroristas religiosos pegam em armas e tiram vidas em nome de seu Deus, Allah, na Europa.
No Brasil, os terroristas pegam em armas e tiram vidas em nome de seu deus, o Dinheiro.
Hoje eu sou Alex. Pois poderia ser eu naquele ponto de ônibus. Poderia ser você. Poderia ser meu pai, minha mãe, meu marido, meu filho. Poderiam ser os seus familiares. Assim como um dia já foi meu irmão.
Meu irmão, Hermes, tinha 25 anos e estava com a namorada, na praia, com uma maquina fotográfica. Os criminosos disseram que ele reagiu (eles sempre dizem, assim a culpa passa para a vítima), mas ele não reagiu, e mesmo assim, tomou um tiro no peito. Foi muito semelhante ao caso do Alex. Mas meu irmão não era biólogo, era cartunista, quadrinista, desenhista. Como as vítimas do Charlie Hebdo. Ele poderia estar no ponto de ônibus. Ou dentro da Charlie. Ou na praia, como de fato estava, 11 anos atrás. 
Hoje eu sou Hermes. Eu sou João Hélio. Sou Rodrigo. Sou Liana. Sou Felipe. Sou Gabriela. Sou Giorgio Renan. Sou Júlio. Isabela. Bernardo... Eu sou tantos, eu sou milhares. Eu sou meio milhão, em 10 anos. E hoje, hoje eu sou o Alex.
Seria muito bonito se tivéssemos o amor ao nosso povo que os franceses tem... Se a cada atrocidade saíssemos as ruas e gritássemos NAO! BASTA! Nao suportamos mais viver com medo! Não aceitamos mais que nossas vidas, únicas e inestimáveis, sejam assim banalizadas e desprezadas! por ideologia, extremismo religioso, convicção, guerra? Nao, por NADA, de graça,pela simples ganância  do dinheiro/bem material fácil que o bandido negocia  no momento que te aponta uma arma. Sua vida ou o celular? Sua vida ou o carro? Sua vida ou a bolsa? E às vezes, e muitas vezes, ele leva os dois...
Volto a pensar em Paris, em pessoas trabalhando, sem saber que seriam seus últimos momentos de vida. As pessoas morreram assim, no meio de uma manhã, sem direito à defesa, direitos humanos, julgamento... Não eram criminosos. Não estavam em guerra. Estavam trabalhando. Por isso o mundo inteiro se assustou e ressentiu. Mas aqui? Aqui, isso acontece todas as manhãs. Nas residências invadidas. Nos carros roubados nas ruas. Nos nossos trabalhos e comércios. Nas praias. Nos pontos de ônibus. Nos 56.000 homicidios anuais, o maior índice do MUNDO. 
Por isso, por estas mortes estarem aqui, tão vizinhas, que hoje Eu sou Alex.
Pois sou mesmo.
E quem ainda não percebeu que é Alex, não tem idéia de que isso é real e está ali, do outro lado do portão.
Aos familiares do Alex, minhas profundas condolências. Não há palavras para alentar seus coracoes nesse momento. Espero apenas que sejam fortes e que Deus os console.
Ao resto do Brasil: deveríamos aprender com a França e dizer que BASTA, com faixas, cartazes e milhões nas ruas. Pois todos somos Alex. É só questão de tempo.