quarta-feira, 25 de junho de 2008

Adoção


Parece que o próximo passo após as FIVs frustradas é a adoção. Como cada um tem um limite, não digo que em alguns anos eu não venha a tentar de novo as FIVs, mas por hora, parece ser esta a única opção.
Mas o fato é que a adoção é algo que eu acho que já tem que nascer com a pessoa. Tenho muito medo de ter a eterna sensação de estar criando os filhos dos outros e estes filhos jamais serem a minha família. E isso absolutamente não é justo com a criança, que merece no mínimo ser amada, principalmente depois de ter sido rejeitada pelos pais naturais.
A outra coisa que surge é: eu conseguiria levar a situação? Quer dizer, o que envolve criar uma criança adotada? Quais os fantasmas que teremos que enfrentar para sempre? O fantasma dos pais verdadeiros e a possibilidade de um dia eles baterem em nossas portas? O fantasma da vontade da criança de conhecer os pais verdadeiros? O fantasma da incapacidade de lidar com o passado da criança? Como deverá ser isso tudo??
Infelizmente não me sinto capaz de lidar com tudo isso. São muitas laranjas no ar para minha pequenina cabecinha... já basta a morte do meu irmão, o processo dos monstros, toda a briga que já enfrentei para pôr estes monstros na cadeia, o contato com a justiça da pior forma, em seu pior lado. Será que eu teria condições de ter mais problemas para carregar? Ou talvez as crianças sejam apenas e somente alegria e esperança e todas estas dúvidas não tenham importância...
Vou visitar um orfanato e descobrir o que acho de lá. Será que vou ter alguma afinidade com as crianças? ou vou voltar chorando como da última vez que visitei uma instituição para crianças com problemas?
De qualquer forma, minha vida está bastante esquisita com o foco apenas em dietas para emagrecer e com a sensação estranha de que agora sobram quartos nesta casa com apenas 2 pessoas...

terça-feira, 24 de junho de 2008

FIV pelo SUS

Espero que realmente saia a FIV pelo SUS, pois os custos são altíssimos e inúmeros casais sofrem pela impossibilidade de fazer o tratamento. Agora, se for como para os demais tratamentos que têm anos de espera, então continuamos na mesma, como sempre.
Há algum tempo atrás ouvi falar que os convênios teriam a FIV em seus pacotes também (veja o link a seguir: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u2215.shtml), mas até agora nada concreto no reino do carnaval...
No final o tratamento fica por conta do casal, isso se eles não quiserem passar do tempo de fazer as tentativas...
Não acho que seria tão absurdo tentar por algumas vezes se o tratamento custasse 2000,00 cada tentativa. Mas aos preços de hoje fica difícil tentar eternamente.
E isso obviamente sem falar dos riscos e do desgaste que a FIV promovem. Não que isso tenha alguma importância frente a possbilidade de realizar o sonho de ter seu bebê, mas como eu já disse antes, tudo isso fica pesado depois dos exames negativos.
Bem, espero que o SUS possa realmente patrocinar este tratamento e que este seja um projeto que saia do palavrório, só para variar um pouquinho.

abraços,

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Reportagem - a decisão de parar...

Queridas, não quero incentivar ninguém a desistir, só quero colocar o que estou sentindo ultimamente, ok??

Segue a reportagem:

http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL611321-5603,00-AO+TENTAR+ENGRAVIDAR+E+PRECISO+SABER+A+HORA+DE+PARAR+DIZEM+MEDICOS.html

Decisões - a vida sem filhos

Eu estava para escrever este tópico quando vi a reportagem acima(Ao tentar engravidar, é preciso saber a hora de parar, dizem médicos).

Na verdade é extremamente difícil tomar a decisão de não tentar mais ter filhos. O melhor que ciência hoje nos oferece é também o seu lado mais escuro: a esperança.

A esperança te levanta, constrói seu castelo novamente, mesmo quando ele já está indefeso, atacado, quase em ruínas... aí chega a oportunidade de ouro de reconstrução, da esperança, da capacidade de sonhar. E enquanto dura o tratamento de fertilização in vitro, este sonho dura. É a volta da expectativa, da imaginação, das escolhas dos nomes, da capacidade de imaginar os novos Natais, os feriados de Páscoa, o primeiro dia de escola, a aparência, a formatura, a profissão que cada um poderia escolher... é ver os olhos de seus pais brilhando novamente, passar em frente às lojas de brinquedos e sonhar com carrinhos de contrrole remoto, bonecas que andam, ursinhos de pelúcia... escolhemos os padrinhos, as roupinhas, imaginamos o quartinho... tudo que já estávamos deixando para trás, sempre que um novo ciclo demonstrava que nada iria mudar de novo e revivemos todas as expectativas que tínhamos antes de todas as frustrações, de todas as menstruações e exames negativos.

Voltamos a sonhar juntos com o marido, como fazíamos quando planejávamos o casamento e escolhíamos juntos as músicas, os convidados, os padrinhos...

E estes 40 dias de tratamento são absolutamente maravilhosos. Não ligamos para as injeções, para as náuseas, para o cansaço, para os altos gastos... Nestes 40 dias a única resposta possível é o positivo e cada passo é uma benção: os óvulos que amadureceram, os embriões que fertilizaram, a qualidade dos embriões (nas duas FIVS minhas os embriões eram de qualidade ótima e excelente - A e B), depois recebemos os embriões e ficamos grávidas pela primeira vez na vida, sentimos pequenas contrações no útero e agradecemos por eles estarem lá, sentimos cólicas fortes, mas agradecemos pois significa que os embriões ainda estão no útero, falamos com eles (ah, que medo! podem ser quadrigêmeos! mas ao mesmo tempo já amamos os 4 e não gostaríamos que nenhum deles fossem embora!). Da primeira vez eu passei os 14 dias conversando com os embriões, aprentei minha casa, meus cachorros, meu local de trabalho, o pai deles, meus pais e até minhas músicas favoritas. Da 2ª vez, estava mais machucada e decidi que talvez os bebês tenham enjoado de uma mãe tão falante, portanto, eu só pedia todos os dias para eles ficarem comigo e eu prometia que seria a melhor mãe que eu pudesse ser....

No fim, quando o negativo vem de novo, começamos a nos questionar se tudo isso adiantou de algo.

É óbvio que é estatístico, mas os sentimentos que geramos não entendem lhufas de estatística...

E chega uma hora que é necessário retomar a vida e pensar em como ela será agora que os filhos não virão mais.

E mesmo que tomemos a decisão, parece que sempre paramos antes do final, pois parece que uma vez que decidimos fazer um tratamento desta magnitude, que ele irá dar certo, invariavelmente. Quando não dá, parece que ainda não acabou.
Mas um dia, é necessário tomar uma decisão.

E esta decisão é muito dolorida, pois é uma decisão sem poder de decisão, pois esta decisão já foi tomada sem você. Os dados já foram jogados pela natureza. Parece que temos apenas que decidir se ainda queremos tentar adivinhar os números ou simplesmente deixar os dados parados, como estão, pois não temos condições de movê-los (mas temos a eterna sensação de que temos a obrigação de tentar pelo menos).

E depois, fica em nossa cabeça a pergunta que nos martela as têmporas e não nos deixa dormir à noite: e agora????

Quando perdemos os embriões...

Fiz meu 2º tratamento de fertilização in vitro, ou melhor de ICSI na seqüencia do primeiro. Infelizmente não pude congelar óvulos da primeira vez, portanto todo o tratamento foi reiniciado, desde o Synarel às injeções diárias e exames freqüentes.
Bom, no último dia 30 eu saberia pela segunda vez se eu havia perdido os embriões pela segunda vez ou se minha vida mudaria totalmente a partir das 17h daquele dia.
Neste dia eu estava organizando um evento e o exame de sangue precisou ser feito fora da clínica por causa do horário. às 17h o médico me ligaria para dar o resultado.
Passei o dia todo pensando qual seria minha reação, alternando pensamentos de alegria e tristeza, imaginando o resultado positivo e o negativo. Considerei se seria melhor eu pedir para o médico ligar mais tarde para que eu não caísse no choro na frente das pessoas do evento ou simplesmente saísse gritando histericamente que finalmente eu teria um bebê...
No final, resolvi arriscar e esperar, afinal eu poderia ter uma ótima notícia, não falar nada para ninguém e passar comprar sapatinhos amarelinhos para presentear meu marido e chamá-lo de pai pela primeira vez. Já comecei a imaginar que poderia inclusive comprar um babador e a 1ª roupinha do bebê, aliás, talvez um kit maternidade!
Ah, mas eu tinha que considerar que também poderia dar negativo. E neste caso, eu não poderia chorar na frente das pessoas. Pensei em meus pais, que após a morte de meu irmão já haviam passado por tanto sofrimento e que agora seriam poupados da alegria de ter seu primeiro e único neto. E se não desse certo? Minha família acabaria quando eu morresse... e o que eu iria falar para meus pais? E para o meu marido, ansioso em casa??
Mas ainda poderia dar positivo e então decidi que convidaria a todos para jantar fora e dar a notícia. Ah, poderia comprar sapatinhos de bebê para todos! Para meus pais, minha sogra e cunhadas! Seria uma grande surpresa!
Às 17h10 o telefone tocou. Saí da sala de reuniões e atendi no saguão.
-Alô?
-Alô, o Dr. pode falar com você?
-Sim, por favor.
-Dalila? Como está?Viu, seu resultado já saiu.
-E qual foi?
-Infelizmente os valores deram muito baixos...
-Muito baixos que podem virar positivo ou negativos mesmo?
-Deu negativo. Depois você precisa voltar ao consultório para conversarmos melhor.
-OK
Respirei fundo, engoli forte e voltei para minha reunião. Afinal, eu era profissional.
Duas horas depois peguei a estrada em direção a minha casa. A vida não iria mais mudar. Não haveriam fraldas, choro, alegria, expectativa e esperança nascendo em minha casa nunca mais. Não precisava comprar os sapatinhos. Nem ligar para meus pais. Estávamos sozinhos, de novo. E desta vez, definitivamente.
Os olhos embaçaram na estrada. Mas eu não chorei. A vida havia me dado mais uma tremenda rasteira. Mas eu estava aprendendo mais uma vez a levantar, limpar os joelhos e engolir o choro... A vida mais uma vez era um pai cruel, sem chance oferecer colo...