Eu estava para escrever este tópico quando vi a reportagem acima(Ao tentar engravidar, é preciso saber a hora de parar, dizem médicos).
Na verdade é extremamente difícil tomar a decisão de não tentar mais ter filhos. O melhor que ciência hoje nos oferece é também o seu lado mais escuro: a esperança.
A esperança te levanta, constrói seu castelo novamente, mesmo quando ele já está indefeso, atacado, quase em ruínas... aí chega a oportunidade de ouro de reconstrução, da esperança, da capacidade de sonhar. E enquanto dura o tratamento de fertilização in vitro, este sonho dura. É a volta da expectativa, da imaginação, das escolhas dos nomes, da capacidade de imaginar os novos Natais, os feriados de Páscoa, o primeiro dia de escola, a aparência, a formatura, a profissão que cada um poderia escolher... é ver os olhos de seus pais brilhando novamente, passar em frente às lojas de brinquedos e sonhar com carrinhos de contrrole remoto, bonecas que andam, ursinhos de pelúcia... escolhemos os padrinhos, as roupinhas, imaginamos o quartinho... tudo que já estávamos deixando para trás, sempre que um novo ciclo demonstrava que nada iria mudar de novo e revivemos todas as expectativas que tínhamos antes de todas as frustrações, de todas as menstruações e exames negativos.
Voltamos a sonhar juntos com o marido, como fazíamos quando planejávamos o casamento e escolhíamos juntos as músicas, os convidados, os padrinhos...
E estes 40 dias de tratamento são absolutamente maravilhosos. Não ligamos para as injeções, para as náuseas, para o cansaço, para os altos gastos... Nestes 40 dias a única resposta possível é o positivo e cada passo é uma benção: os óvulos que amadureceram, os embriões que fertilizaram, a qualidade dos embriões (nas duas FIVS minhas os embriões eram de qualidade ótima e excelente - A e B), depois recebemos os embriões e ficamos grávidas pela primeira vez na vida, sentimos pequenas contrações no útero e agradecemos por eles estarem lá, sentimos cólicas fortes, mas agradecemos pois significa que os embriões ainda estão no útero, falamos com eles (ah, que medo! podem ser quadrigêmeos! mas ao mesmo tempo já amamos os 4 e não gostaríamos que nenhum deles fossem embora!). Da primeira vez eu passei os 14 dias conversando com os embriões, aprentei minha casa, meus cachorros, meu local de trabalho, o pai deles, meus pais e até minhas músicas favoritas. Da 2ª vez, estava mais machucada e decidi que talvez os bebês tenham enjoado de uma mãe tão falante, portanto, eu só pedia todos os dias para eles ficarem comigo e eu prometia que seria a melhor mãe que eu pudesse ser....
No fim, quando o negativo vem de novo, começamos a nos questionar se tudo isso adiantou de algo.
É óbvio que é estatístico, mas os sentimentos que geramos não entendem lhufas de estatística...
E chega uma hora que é necessário retomar a vida e pensar em como ela será agora que os filhos não virão mais.
E mesmo que tomemos a decisão, parece que sempre paramos antes do final, pois parece que uma vez que decidimos fazer um tratamento desta magnitude, que ele irá dar certo, invariavelmente. Quando não dá, parece que ainda não acabou.
Mas um dia, é necessário tomar uma decisão.
E esta decisão é muito dolorida, pois é uma decisão sem poder de decisão, pois esta decisão já foi tomada sem você. Os dados já foram jogados pela natureza. Parece que temos apenas que decidir se ainda queremos tentar adivinhar os números ou simplesmente deixar os dados parados, como estão, pois não temos condições de movê-los (mas temos a eterna sensação de que temos a obrigação de tentar pelo menos).
E depois, fica em nossa cabeça a pergunta que nos martela as têmporas e não nos deixa dormir à noite: e agora????